segunda-feira, 6 de julho de 2009

CONFISSÕES ( PÁGINA 02 )

Não esperava que ela tivesse coragem ou ousadia sufuciente para tal atitude, mas, porque pensava isso se nem a conhecia ? respondi-lhe a pergunta e informei as horas. Não tinha certeza se falara corretamente ou se apenas gemera alguma coisa. Minha garganta queimava, tinha a boca seca e não articulava as palavras direito, tamanho o impacto que a proximidade dela me causara. Depois de um longo estado de torpor conseguí erguer os olhos para olhá-la, e percebí que ela parecia se divertí com aquela situação, que para mim era no mínimo constrangedora. Acho que ela também percebeu, disse-me obrigada e depois saiu acompanhada da amiga, que assistia a tudo sem dizer palavra. O mundo pareceu parar para mim depois daquele momento; percebia que as pessoas continuavam dançando agitadas, mas não conseguia distinguir uma das outras. Meus amigos me chamavam mas eu não ouvia, por que, dentro de minha cabeça ainda ecoava o som melodioso daquela voz; era com um sino rebombando badaladas, intensas, fortes, intermitentes e insistentes. Achei que estava desmoronando, parecia que meu mundinho ruía por terra naquele momento. Tudo o que eu havia construído, todas as coisas pelas quais eu havia lutado, pareciam não valer nada diante daquele momento, ante a lembrança daquele sorriso. Ela continuava lá, no meio do salão rodeada por seus amigos, dançando e me olhando, me provocando. Parecia não se importar com as outras pessoas, com o que elas poderiam falar; e quanto mais eu olhava mais linda ela me parecia, mais fascinada eu ficava, mais eu me perdia mergulhada naquele olhar. Estava perdendo as forças para algo que eu nem sabia o que era, e com o qual eu não tinha armas para lutar."Socorro" eu gritei dentro de mim, mas ninguém me ouvia, exceto ela, que pelo jeito não queria me salvar, mas ao contrário, desejava que eu me perdesse. Não sei por quanto tempo ficamos assim, travando essa luta silenciosa, só lembro que ouví, bem distante, o cantor da banda desejando uma boa tarde e informando que a festa acabara. Desejei ardentemente que ela fosse embora antes de mim, ou eu não teria coragem de ir. Nesse instante um amigo da turma veio ao meu encontro para saber o que estava se passando comigo, se eu estava bem, já que, não dançara e nem ficara com eles uma única vez. Foi a minha deixa. Sem dar qualquer explicação pedí a ele que me ajudasse a levantar, e caminhei com ele até a saída. Ainda nos cruzamos antes de ela sumir na estrada. Comigo ficaram aquele sorriso, a voz doce e suave, e o perfume que ela usava. Não sei como entrei naquele ônibus, muito menos como cheguei em casa. Só pensava nela, ardia por ela, ansiava, desejava aquele corpo, aquele sorriso, aquela boca, aquela pele, como jamais desejara algo em minha vida. Mas aquilo era proibido, disso eu sabia. Mas naquele momento pouco me importavam as convicções, as opiniões preconceituosas e medíocres, da sociedade hipócrita em que vivíamos. Queria aquela mulher, não importava o quanto isso iria me custar, apenas queria, e naquele dia essa era a minha única certeza: aquela mulher seria minha, e eu passaria por tudo e por todos para tê-la comigo, ela seria minha, e ela também já sabia disso.