sábado, 2 de outubro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Página 05

O silêncio que se seguiu foi muito constrangedor, eu não conseguia articular uma única palavra. Dila com aquele jeito dela meio moleque, ficava só curtindo com a minha agonia e o embaraço daquela situação. Como nenhuma de nós respondeu à pergunta, ela então despediu-se da amiga que à acompanhava, e sem esperar mais sentou-se, para o meu total desespero, bem de frente para mim, me olhou, no fundo dos olhos, e ingenuamente sedutora, me sorriu. Eu quis que o chão abrisse bem embaixo de mim, e me tragasse. Ao invés disso, com a cara de uma completa idiota, retribuí, sorrindo acanhadamente para ela. O que se seguiu foi um festival de perguntas jogadas sem intervalo. Era como se ela tivesse todas a pressa do mundo em saber de uma vez só tudo sobre nós, ou sobre mim, ou ainda quem sabe sobre Dila. Ela não deixava transparecer, nem mesmo num pequeno gesto, por qual de nós ela havia se interessado, e parecia se divertir com a situação. Aquilo era ao mesmo tempo maravilhoso, por que me deixava bem perto dela, tão perto que eu sentia o perfume suave que ela exalava, mas também era uma situação agonizante por que eu não conseguia responder uma única e miserável pergunta com coerência. Metia os pés pelas mãos e me enrolava toda. Não estava acostumada àquele tipo de situação. Jamais passára por tamanho impacto, então, não sabia como me comportar. Situações que me exigiam muito esforço sempre me causavam desconforto, e, embora soubesse o que fazer e como agir eu me perdia toda, por que sempre fui muito tímida. Dila que estava calada até agora, resolveu então participar da conversa. Foi então que ela pela primeira vez, virou-se, encarou Dila, e perguntou sem o menor pudor, referindo-se à nós duas ( eu e Dila): você são namoradas ? eu tentei me apressar para responder, mas Dila foi mais rápida e disse: somos,
- Somos, por que ?
- Nada, apenas curiosidade.
Mas eu não podia deixar que ela fosse embora acreditando em uma mentira e então pela primeira vez, raciocinei com rapidez e disse:
- Não, nós não somos namoradas, é que minha amiga gosta muito de brincar, é melhor você não levar muito a sério determinadas coisas que ela diz, por que são apenas brincadeiras.
Então ela voltou-se para mim, me olhou com aqueles olhos, que eu já amava e me falou:
- Que bom, isso quer dizer então que eu tenho uma chance.
Foi a sensação mais linda que eu viví. Tudo dentro de mim pulava, saltitava, dava cambalhotas de alegria. Ela nunca tinha sido tão rápida e tão direta em um comentário, pelo menos não até aquele instante. Pareceu-me que uma luz intensa se acendera dentro de mim, e eu no auge da euforia, tive medo que de repente, aquela luz transparecesse e ficasse visível para ela. Se aquilo pudesse ser visto a olho nú, ou até mesmo através da lente poderosa de um microscópio, com certeza pensariam que dentro de mim habitava metade da banda do Olodum em um dia de festa na Bahia. Era uma sensação incrível, poderosa, sufocante, arrebatadora, e todos os outros adjetivos de que eu não lembro agora. Ela gostava de mim, ou pelo menos estava interessada. Aquela mulher, linda e exuberante, meiga e ao mesmo tempo com ar delicadamente fatal, me vira, reparara em mim, muito mais do que eu podia imaginar. Aquilo, quero dizer, aquela certeza me fizera ganhar o dia. Agora sim eu sabia que podia sonhar um pouco, criar contos de fada, história de princesas com finais felizes, por que pela primeira vez, desde que nos encontramos, eu via uma pequena luz, que poderia me levar, não ao final do túnel, mas ao começo daquilo que me parecia ser o caminho certo, para alcançar o coração daquela mulher que, como em um passe de mágica, tomara meu coração para ela, para sempre.

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O silêncio que se seguiu foi muito constrangedor, eu não conseguia articular uma única palavra. Dila com aquele jeito dela meio moleque, ficava só curtindo com a minha agonia e o embaraço daquela situação. Como nenhuma de nós respondeu à pergunta, ela então despediu-se da amiga que à acompanhava, e sem esperar mais sentou-se, para o meu total desespero, bem de frente para mim, me olhou, no fundo dos olhos, e ingenuamente sedutora, me sorriu. Eu quis que o chão abrisse bem embaixo de mim, e me tragasse. Ao invés disso, com a cara de uma completa idiota, retribuí, sorrindo acanhadamente para ela. O que se seguiu foi um festival de perguntas jogadas sem intervalo. Era como se ela tivesse todas a pressa do mundo em saber de uma vez só tudo sobre nós, ou sobre mim, ou ainda quem sabe sobre Dila. Ela não deixava transparecer, nem mesmo num pequeno gesto, por qual de nós ela havia se interessado, e parecia se divertir com a situação. Aquilo era ao mesmo tempo maravilhoso, por que me deixava bem perto dela, tão perto que eu sentia o perfume suave que ela exalava, mas também era uma situação agonizante por que eu não conseguia responder uma única e miserável pergunta com coerência. Metia os pés pelas mãos e me enrolava toda. Não estava acostumada àquele tipo de situação. Jamais passára por tamanho impacto, então, não sabia como me comportar. Situações que me exigiam muito esforço sempre me causavam desconforto, e, embora soubesse o que fazer e como agir eu me perdia toda, por que sempre fui muito tímida. Dila que estava calada até agora, resolveu então participar da conversa. Foi então que ela pela primeira vez, virou-se, encarou Dila, e perguntou sem o menor pudor, referindo-se à nós duas ( eu e Dila): você são namoradas ? eu tentei me apressar para responder, mas Dila foi mais rápida e disse: somos,
- Somos, por que ?
- Nada, apenas curiosidade.
Mas eu não podia deixar que ela fosse embora acreditando em uma mentira e então pela primeira vez, raciocinei com rapidez e disse:
- Não, nós não somos namoradas, é que minha amiga gosta muito de brincar, é melhor você não levar muito a sério determinadas coisas que ela diz, por que são apenas brincadeiras.
Então ela voltou-se para mim, me olhou com aqueles olhos, que eu já amava e me falou:
- Que bom, isso quer dizer então que eu tenho uma chance.
Foi a sensação mais linda que eu viví. Tudo dentro de mim pulava, saltitava, dava cambalhotas de alegria. Ela nunca tinha sido tão rápida e tão direta em um comentário, pelo menos não até aquele instante. Pareceu-me que uma luz intensa se acendera dentro de mim, e eu no auge da euforia, tive medo que de repente, aquela luz transparecesse e ficasse visível para ela. Se aquilo pudesse ser visto a olho nú, ou até mesmo através da lente poderosa de um microscópio, com certeza pensariam que dentro de mim habitava metade da banda do Olodum em um dia de festa na Bahia. Era uma sensação incrível, poderosa, sufocante, arrebatadora, e todos os outros adjetivos de que eu não lembro agora. Ela gostava de mim, ou pelo menos estava interessada. Aquela mulher, linda e exuberante, meiga e ao mesmo tempo com ar delicadamente fatal, me vira, reparara em mim, muito mais do que eu podia imaginar. Aquilo, quero dizer, aquela certeza me fizera ganhar o dia. Agora sim eu sabia que podia sonhar um pouco, criar contos de fada, história de princesas com finais felizes, por que pela primeira vez, desde que nos encontramos, eu via uma pequena luz, que poderia me levar, não ao final do túnel, mas ao começo daquilo que me parecia ser o caminho certo, para alcançar o coração daquela mulher que, como em um passe de mágica, tomara meu coração para ela, para sempre.