quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Confissões Pag: 03

o caminho de volta para casa pareceu-me bem maior que o de costume. Minha cabeça e meus pensamentos, vagavam naquela imagem que teimava em permanecer comigo. Eu a via em todos os lugares. Para onde quer que eu olhasse, a imagem dela estava lá, como se quizesse me desafiar, ou simplesmente impedir que eu a esquecesse. A angustia dentro de mim aumentava a proporção que aquele ônibus me deixava cada vez mais longe dela. Mas isso era uma coisa que eu não podia evitar. Em casa, enquanto tomava meu banho apressadamente, revivia aqueles momentos mágicos, do olhar dela no meu. Como eu queria que ela estivesse alí naquele instante comigo, e me pegava pensando: O que ela estaria fazendo naquele momento ? pensava em mim como eu pensava nela ? sentia a mesma vontade de estarmos frente a frente ? desejava com a mesma ansiedade um novo encontro ? fiz um esforço enorme para que esses pensamentos me dessem um pouco de paz, uma trégua ainda que momentânea. Saí do banheiro apressada, pus a primeira roupa que encontrei, sentei à mesa e comí mecanicamente o almoço que minha mãe guardara para mim. Tinha pressa, precisava encontrar Dila por que, precisava de alguém em quem pudesse confiar para falar, desabafar, e Dila, além de minha melhor amiga já sabia de parte da história. Quando Dila abriu a porta eu nem sequer dei tempo para que ela falasse, fui despejando em cima dela, toda aquela aflição, aquela angústia que me sufocava o peito e me deixava sem ar. Ela ouviu-me pacientemente, sem reclamações e sem me interromper. Ao final de meu relato ela perguntou:
_ Você já sentiu isso por alguém , quero dizer, por outra mulher ?
_ Olhei pra ela meio indignada, e respondí: é claro que não. Porque você está me fazendo essa pergunta ? somos amigas há muito tempo e você me conhece bem, aliás sabe tudo de mim.
Dila olhou-me nos olhos e como quem tenta apaziguar, disse-me:
_ Não precisa ficar com raiva, foi apenas uma pergunta.
Ela sentou-se à meu lado, ficou, durante alguns minutos sem dizer palavra, até que levantando ohou-me nos olhos e disse:
_ Olha, antes de tomarmos qualquer atitude, é preciso que eu veja essa mulher, que fale com ela para poder analisar melhor a situação. Não podemos tomar nenhuma atitude enquanto não tivermos essa conversa. Vamos combinar tudo e no próximo domingo iremos juntas. Aí você me mostra quem é ela.
Meio intrigada com aquela atitude de Dila perguntei-lhe:
_ Posso saber que interesse é esse por ela ?
_ Claro, só quero ter certeza se ela é ou não a mesma mulher que eu ví e que também ficou me olhando, falei pra você lembra ?
_ Tudo bem Dila eu lembro sim, é que estou muito confusa, me desculpa.
Depois disso combinamos ir a uma festinha que aconteceria àquele domingo na casa de um amigo. Levantei-me e fui caminhando lentamente para casa, pensando, revivendo cada momento daquele dia, que para mim se tornara tão especial, afinal era a primeira vez que tudo dentro de mim tomava proporções enormes, resultado daquele esquisito, mas inusitado amor, era a primeira vez em minha vida que eu sentia amor de verdade por alguém, embora tudo nesse amor fosse estranho, fora dos padrões e das conveniências. Eu amava, isso sim era o mais importante, por que aquele amor, embora inesperado e estranho, trazia um novo e delicioso sentido em minha vida. Era como ganhar um presente muito desejado. De repente um estalido dentro de mim, quebrou toda a magia daquele instante, parei estagnada, como se a força de gravidade me puxasse cravando os pés no chão, e como um raio, um pensamento ecoou dentro de mim perguntando: O que eu iria fazer com Danilo, meu namorado, como explicaria para ele ? como e o que faria para afastá-lo de minha vida ? precisava de espaço, de liberdade para me entregar de corpo e alma, para mergulhar sem medo naquela nova vida que a vida me trazia. Sorrí, e penso que as pessoas que passavam por mim naquele momento tiveram a impressão de que eu era louca. E o mais fantástico de tudo aquilo, é que eu estava realmente insana, louca por aquela mulher que com um único sorriso me arrebatara de tal forma, que ninguém, à partir daquele instante, jamais poderia tirá-la de dentro de mim. Alguém teria que sofrer, isso era certo, mas, não seria eu, não, eu queria ser feliz, precisava ser feliz. E por ela, por mim, por nós, pelo nosso amor eu estava disposta a enfrentar qualquer batalha.