sábado, 25 de junho de 2011

Página 06

Depois de meses frequentando aquele lugar todos os domingos, era a primeira vez que eu e Dila voltáva-mos para casa sem articular uma única palavra. Ficamos cada uma, mergulhadas em seus próprios pensamentos. Dila, eu não sei o que, e nem como pensava; mas eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse ela. Aquela visão não me saía da cabeça. Era uma sensação de bem estar, por que pela primeira vez eu sentia o que era o amor, e ao mesmo tempo de conflito, por que era o contrário de tudo o que eu havia aprendido até aquele momento em que a ví pela primeira vez. Nessas horas parece que os sentimentos se misturam de tal forma, que fica difícil distinguir realidade de sonho. Era uma situação muito constrangedora para mim. Jamais me passara pela cabeça viver tal realidade fantasiosa. Sempre achei que meninos eram o meu forte, ou meu fraco, mas também sabia que por vários momentos dessa minha vida, havia ficado intrigada com meu comportamento em determinadas situações, com relação às mulheres. O problema é que nunca havia sido confrontada com uma questão tão complexa como esta. De repente a voz de Dila me chama de volta a realidade.
- E então o que acha de tudo isso, será que ela tá falando sério ou tá só curtindo com a gente ?
- Eu não sei dizer, estou muito confusa com toda essa situação; é tudo tão inesperado...
- Sei como você esta se sentindo, eu mesma não consigo chegar a lugar nenhum nessa história, quanto mais penso mais confusa fico.
- eu sei, também estou me sentindo do mesmo jeito.
Depois disso seguimos todo o trajeto para casa em silêncio, cada uma tentando desvendar os mistérios que haviam por traz de toda essa história. A semana que se seguiu não foi fácil para mim. Não sentia ânimo para nada, e as coisas ao redor que antes me pareciam tão divertidas, perderam a cor, e o interesse. Minha mãe notara a diferença e me fizera perguntas querendo saber o que estava acontecendo, mas eu sempre me saía bem com evasivas. Não queria que ninguém, nem mesmo ela, sequer sonhasse com toda aquela situação. Isso caberia somente a mim. Eu deveria desvendar esse mistério, e entender porque, e o que estava acontecendo comigo. Aquela era a minha vida, e pela primeira vez, eu queria ser um pouco a dona dela; tomar minhas próprias decisões, ter as rédeas da situação, embora isso custasse a minha sanidade. Se queria mesmo aquela mulher, teria que começar a enfrentar meus medos, e a tomar conta de mim, deixar de ser aquela menininha e começar a me tornar adulta, não havia outra saída para mim à não ser encarar os fatos e enfrentar essa nova etapa. Não me sentí animada para sair àquela noite e me encontrar com os amigos, preferí ficar em casa, tentando resolver aquela confusão estranha em que meu coração desavisado se metera. Mas na minha ignorância total sobre o assunto, eu sentí que não poderia fazer muito por mim mesma. De que jeito lidar com tudo aquilo ? a quem pedir ajuda, a Dila ? coitada, estava no mesmo barco furado que eu; bom pelo menos é o que eu imaginava. Não havia saída, definitivamente, não havia saída; no entanto eu precisava de uma, não poderia viver muito tempo nessa agonia, não poderia viver com essas dúvidas e aflições, precisava fazer alguma coisa, disso eu tinha certeza, mas o que ? não sabia. E com a mente envolta e perdida nesses pensamentos, eu finalmente adormecí, na esperança que o amanhã, me trouxesse, como num piscar de olhos, ou em um milagre, a solução para todos aqueles problemas.

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